Caro leitor, não vou me ater aos significados, origens, doutrinas bíblicas que contrapõem às celebrações das festas juninas. Aqui quero compartilhar a minha visão e vivências sobre essa festa. Convido-o a conhecer um pouco do que era este panorama para mim.
§ Vivendo por dentro
Eu, como boa nordestina que sou, cresci vendo bandeirinhas sendo enfeitadas nas ruas, pessoas indo ao mato recolher toras para fazer fogueiras, dormia com o martelada das barracas que se erguiam cheias de cheiros e comidas. As cozinhas ao redor da minha casa tinham um cheiro gostoso de bolo de milho, de canjica, de cocada recém-feita. Minha mãe trabalhava o dia inteiro cozinhando iguarias para serem vendidas na quermesse. Minhas irmãs e eu ensaiávamos com muita disciplina os passos da quadrilha e disputávamos entre as escolas do bairro quem seria a melhor quadrilha do ano, quem traria o prêmio para sua escola. As crianças se alegravam, empilhadas nos muros com os fogos, com as passeatas, com a dança bonita das quadrilhas. Os mais velhos riam do casamento caipira enquanto tomavam quentão, as famílias acendiam fogueiras e se esquentavam à noite enquanto contavam histórias. As mães e tias brincavam de pular fogueira e nós de cabo de guerra, pescaria, corrida de carro de mão, corrida de saco, jogo de argolas… Eu cresci nesse meio e aprendi a gostar de festa junina, pois para mim em nada remetia à idolatria e a homenagem aos santos. Nunca me passaria pela cabeça que aquelas festas desagradariam a Deus.
§ A ruptura
Mas há um momento na vida de todo ser humano em que ele realmente começa a compreender o mundo a sua volta, aquilo que outrora lhe causava riso, meio que perde o gosto, e o que era tão bonito e colorido não é mais tão colorido assim. Quando Jesus Cristo salvou a minha vida, muita coisa dentro de mim mudara, principalmente minhas concepções do que agrada ou não agrada a Deus, do que é para a glória de Deus ou é para o desejo da minha carne. Digo isso, não apenas em relação à festa junina, mas em relação a qualquer festejo ou confraternização que eu tenha que participar.
Com Cristo adquiri nova forma de pensar, de olhar o meio que me cerca, de me relacionar com o que eu achava que não tinha nada a ver. Nessas festas pude ver que realmente é tudo voltado e dedicado aos “santos”: as bandeirinhas com cada cor representando um santo, os mastros em que são estampados a foto dos santos, as casas, as comidas, as vestes, tudo era dedicado aos santos. Então percebi que Deus ficava bem longe de tudo isso, pois para ele a idolatria é pecado abominável. E mesmo de maneira inconsciente estávamos sendo idólatras. Em Isaías 42.8, Deus diz que não dará a sua glória nem o seu louvor a nada nem a ninguém. Então, decididamente resolvi não mais fazer parte disso.
§ Um olhar de amor
Entretanto, já inserida na igreja de Cristo, com minha fé bem afinada me deparei com a tal festa Jesuína. É claro que eu torci o nariz, eu não concordava com nenhum argumento que me dessem de “aproximar para evangelizar”. Para mim o Espírito Santo não precisaria dessa ajudinha para atrair o não-crente à Igreja. Novamente tive meus embates filosóficos, teológicos chacoalhados. Eu era uma cristã sisuda e inflexível achando que as minhas mazelas sobreporiam à boa vontade de tantos cristãos sérios e comprometidos em anunciar o Evangelho de Cristo. A muito contragosto fui a uma dessas festas Jesuínas e para meu espanto vi de perto como o amor ao Senhor Jesus pode ser demonstrado de diversas formas: nas músicas, nas orações que quebravam intervenções malignas e que alcançavam a vida dos que por curiosidade chegavam ali na igreja atraídos por bandeirolas e barracas de comidas típicas. Percebi o Senhor Jesus ali presente, vivo e atuando livremente, libertando vidas, desfazendo alianças, curando, salvando e a festa que para mim era uma festa de sincretismo religioso apenas, tornava-se aos meus olhos uma grande festa de Salvação. Festas sem bebidas alcoólicas, sem devoção aos santos, sem as mandingas ao redor das bacias de água. Era uma festa tipicamente cristã.
§ Qual o foco?
Hoje entendo que as vezes nós, encharcados ainda do velho homem, causamos desconfortos em que nos rodeia quando estes já revestidos de justiça desejam ir em busca do perdido e trazê-lo aos pés de Cristo. Muitas vezes ficamos numa posição ofensiva/defensiva cheios de argumentos e não vemos que são os nossos olhos que precisam mudar o foco, cair as escamas do legalismo e do ativismo religioso.
Lembro-me do que Paulo dissera certa vez: “Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns” (1 Coríntios 9:22). Acredito que com essa fala o amado apóstolo quis dizer que se é para glorificar o nome de Deus, se é para o resgate do homem das amarras do pecado, se é para quebrar paradigmas e mostrar que Deus é um Deus que ama fazer festa, que ama ver seu povo reunido glorificando e engrandecendo o seu nome, faça festa! Seja em junho, julho, agosto ou no mês e época do ano que desejar. Anuncie a Jesus a tempo e fora de tempo (2 Timóteo 4.2). O mesmo Paulo afirma que “Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.” (1 Coríntios 10.31). Sugiro que se o foco está em Cristo, faça parte, senão tiver não faça parte. Simples assim, como tudo na vida. Se sua mente te condena e por causa da sua consciência acha indevido e incoerente, fique longe, mas não deixe que a bandeira do evangelho lhe afaste das pessoas. As boas novas do Senhor Jesus são para dar vida e vida com abundância. Em Jesus seja livre e leve.
Finalizo com Paulo: Tornei-me inimigo de vocês por lhes dizer a verdade? (Gálatas 4.16).