Paixão de Cristo?
Quando penso na Páscoa e tudo o que envolve essa festividade volto a ser criança e me lembro de como era a minha visão sobre essa data. Eu lembro que era muito mais um evento familiar que propriamente religioso, íamos à casa de minha avó e lá organizávamos tudo para que o almoço de Páscoa ocorresse como se planejara.
Lembro também de nos aglomerarmos nas ruas para ver a Paixão de Cristo! Eu não compreendia como aquele homem todo ensanguentado, martirizado por poderia estar exprimindo algum tipo de paixão! Eu tinha muita pena dele, tanta que agarrava o vestido da minha mãe para não vê-lo sofrendo daquela maneira. E o pior ainda estava por vir: ele morreria pregado numa cruz, desnudo, humilhado, sozinho e incompreendido.
O tempo passou, e a Páscoa tomou outro sentido para mim: ainda tínhamos o almoço, a troca de ovos de chocolates ou caixas de bombons de chocolate pois ovo de Páscoa era caro. Era um feriado como outro qualquer, desses bem legais, em que assistíamos filmes e desenhos de Páscoa. Ainda tinha a encenação da Paixão nas ruas, mas agora olhávamos pela janela enquanto comíamos nosso chocolate. Era um feriado alegre, de descanso e partilha do pão. Era apenas mais um feriado.
Cresci, e aos poucos fui aprendendo nas Escrituras que a Páscoa é bem mais importante que um feriado qualquer. Na verdade é o maior evento comemorativo do cristianismo! Pasmei! Como assim? Mais importante que o Natal? Não poderia ser! Como a paixão poderia ser mais importante que o nascimento do
salvador da humanidade? Nesse confronto tão violento de ideias e de desconstruções eu fui entendendo o porquê de a Páscoa ser a maior comemoração da tradição cristã. Vamos caminhar juntos e entender por que comemoramos a Páscoa realmente.
A primeira Páscoa
Como conta a narrativa bíblica no livro do Êxodo, essa história começou quando o povo escolhido de Deus, o povo de Israel, estava sofrendo cativo a quatro séculos com a tirania implacável do faraó. Deus levantou Moisés como o grande libertador daquele povo. Por causa da dureza do coração de faraó Deus realizou grandes prodígios no meio deles. Deus queria revelar o seu poder e domínio àqueles que não o conheciam, principalmente a faraó. Deus derramou sobre a terra egípcia dez pragas terríveis, a última delas é a morte dos primogênitos.
Ocorreu assim: Deus ordenou a Moisés que orientasse aos israelitas que eles deveriam escolher um cordeiro macho, sem defeito, para ser sacrificado. O sangue do cordeiro deveria ser passado nos umbrais das portas, e a carne do cordeiro, comida em cada casa. A carne deveria ser acompanhada de pães asmos e ervas amargas, para eles se lembrarem do tempo amargo de escravidão que passaram. Eles deveriam comer rápido, pois logo partiriam. O sangue do cordeiro seria o sinal de que aquela casa estaria protegida da ira de Deus. Moisés e toda a comunidade israelita fez conforme a ordem de Deus.
Naquela mesma noite, Deus desceu ao Egito e matou todos os primogênitos os quais não tinham em suas casas a marca do sangue do cordeiro. O rei do Egito entendeu que Deus é soberano sobre todos os deuses do Egito e sobre o faraó a quem se intitulava “deus”. Ele teve que deixar o povo ir. O povo foi liberto do jugo da escravidão e sob o comando de Moisés partiram rumo à Terra Prometida.
Essa foi a primeira páscoa. A Páscoa dos israelitas. Hoje a Páscoa judaica
relembra a passagem de Deus na terra do Egito onde ele executou a décima
praga. A Páscoa para os judeus é chamada de “Pesach”, que significa
“passagem”.
É importante você conhecer essa história para que compreenda melhor o próximo tópico.
A Páscoa de Jesus
Quando lemos nos evangelhos a vida de Jesus, identificamos facilmente qual o seu propósito para a humanidade. Jesus não viera apenas como um grande líder religioso, ou como alguém incrivelmente hábil em responder, confrontar e admoestar a sociedade da época. Deus estabeleceu seu plano de Redenção do homem em Jesus. Era plano dele enviar à terra seu único filho, e que ele nascesse através da gravidez virginal de Maria, essa criança seria ensinada segundo a doutrina judaica, e quando adulta fosse o reflexo do amor, do perdão, da fidelidade e da justiça. Antes de concluir o plano de seu pai, Jesus fez questão de reunir-se novamente com seus amigos mais íntimos e celebrar a Páscoa.
Dessa vez ele traria um novo significado àquela celebração. No momento do partir do pão ele dá graças e diz: “Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim”. Após isso, ele pegou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês.” (Lucas 22:19-20) O que Jesus queria dizer com aquelas palavras? Ele queria nos apresentar o plano! A nova aliança, a antiga foi feita em tábuas de pedra, esta nova seria forjada nos corações dos homens!
Mas para que isso ocorresse Jesus teria que se entregar como sacrifício vivo em nosso favor. Como o cordeiro da primeira páscoa sem machas, sem defeito, sem pecado algum ele deixa que escarneçam dele, que o humilhem e o conduzam ao lugar de sua morte. Morte para assassinos, para a escória da sociedade, morte de cruz. A cruz simbolizaria o fim do cativeiro do pecado e do poder da morte sobre as pessoas? Terminaria ali o projeto de resgate do homem? A morte de Jesus seria o fim?
A boa notícia
Eu via no teatro de rua e nos filmes um Jesus derrotado, sem forças, diminuído, e esse mesmo Jesus ainda permanece fixo em muitas casas, como se dissesse que a missão fora concluída. Mas não é isso que a Bíblia nos conta. A Bíblia nos diz que o nosso Deus reina sobre a vida e sobre a morte. Esse é o ponto principal da Páscoa: a vida! A Páscoa não é sobre coelhos, chocolates e almoços fartos.
Não, não é sobre isso. É sobre uma pedra que rola ao terceiro dia de seu sepultamento, é sobre um sepulcro vazio, é sobre vida e vida nova! Jesus triunfou sobre a morte para nos dar vida! Ele mesmo disse: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente.” (João 10.10)
A Páscoa desde a primeira vez que foi instituída já nos mostrava Jesus, ora como o cordeiro imolado para o sacrifício, ora com o sangue derramado que liberta todo um povo do jugo da escravidão, lá a escravidão era do poder de faraó, aqui a libertação do poder do pecado que nos faz separação entre nós e o nosso Deus. A Páscoa nos mostra a passagem, a passagem do juízo de Deus por sobre nossos lares, não haverá mortes em nossos lares se em nossa casa houver a marca do sangue do Cordeiro de Deus. Paulo uma vez falou: se Cristo não ressuscitou, é inútil a fé que vocês têm.” (1Co 15.14).
Não foi em vão a dor, a humilhação, a morte do Senhor Jesus. Hoje, podemos desfrutar do seu amor infindo através de uma vida nova, abundante e próspera. Através dele temos livre acesso ao Pai. Eis a importância irrefutável da Páscoa. Mas é só para quem crer. Você crê?